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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Quinquagésima Terceira Carta: Apenas um mero Discurso



E cá está o meu discurso da formatura: 

"É um fato que isso não é para agradar a todos; nem a um, nem a outro. Há de se preferir um ‘tapa certo’ a um buque de flores murchas. O fato é que acabou, está acabando agora para ser exato. Mas o que está acabando é a tal da questão: falamos dos dias que passamos juntos ou do que mais temos para fazer acontecer? 

Acontece que o que vivenciamos levou-nos até este sentimento de que alcançamos o ápice do pódio, que chegamos ao topo do que queríamos, como estar agora com a preponderância em nossas conquistas. Colocamos a bandeira de posse sobre esta terra e não tardamos de deitar-nos com a sensação de dever cumprido. Mas as conquistas vêm em etapas, em lances de degraus, alguns mais compridos, outros mais altos, mas ainda assim degraus que não devem ser ignorados. Não há modo de descer ou ser derrubado, por sorte, mas há a ignorância de permanecer parado. 

Estar aqui, na posição privilegiada de representar a turma para falar algo que ela mesma precisa ouvir, é algo difícil, mas adianto-me em dizer: a vida não é um brinquedo. Não há como pausar, retroceder, avançar e, menos ainda, como reiniciar. Por isso, antes de fazermos algo, pensemos. Mas pensemos rápido, pois o silêncio é uma parede que nos empurra para o futuro à força, e se não estivermos prontos, se não estivermos com tudo planejado... Já era! Ela nos esmaga, nos deixa para trás e nos obriga a agir como se estivéssemos programados, como se fossemos só mais um. Então, façamos algo. Planejemos ir além, subamos os degraus que levam ao verdadeiro topo da conquista que apenas nós mesmo podemos definir. 

Mas enquanto estamos aqui, alegres, trocando telefones, combinando encontros regulares, começando a nos compreendermos de coração e prometendo que nunca deixaremos o contato de lado, a parede da vida continua nos empurrando. Então, perdoem-me por dizer, pois lamento informar, mas é inútil; nós vamos nos distanciar. Acontece que os papeizinhos com telefones vão sumir como que por encanto, os encontros regulares não vão acontecer e o contato vai ser de fato perdido. Não é estragar o prazer da promessa, mas é como disse um velho livro: “Crescer é, de certa forma, se separar das pessoas amadas”. 

Tudo bem, podem torcer os narizes e se entreolharem, mas acontece que ouviram bem o que vos foi dito. Porém, vamos todos descobrir, na carne, que sentir a vida é sentir o tempo indo embora. Os tais momentos, as tais pessoas, os tais cheiros, visões, objetos e lembranças é o que nos põem em contato com o passar do tempo. Tudo o que nos emociona, tudo o que nos toca no fundo da alma é o tempo chegando e indo embora. 

Mas não podemos nos entristecer com esse ‘abrir de olhos’. Na verdade, devemos encarar como um buque de flores que não estão murchas, entendendo que de fato nelas se encontram a verdade: cada flor, cada parágrafo, é mais que um presente de nós para nós mesmos. É, em suma, uma parede que corre mais rápido que a da vida. Essa é suave, não agressiva, e assim ela nos mostra o melhor caminho, pois é reconhecendo a verdade que passamos a ter conhecimento de como planejar o caminho a ser trilhado. Deste modo, temos aí o começo do planejamento de tudo, assim indo mais rápido que a parede da vida e se por acaso ou castigo, ela nos atingir, saberemos que temos a chance de usar mais uma flor para seguir adiante, pois diferentes das promessas de contato, as flores que carregam a verdade não sumirão como que por encanto. 

A vida, assim, é um presente: será mais suave para uns, mais dura para outros, isto por acaso ou castigo, ou ainda, merecimento. Mas aprendamos a planejar a vida e assim entenderemos como conversar com o tempo, pois assim disse o livro: “Fale com o tempo. Converse com ele. Fique íntimo dele. O tempo é a nossa única companhia garantida até o último tijolo da parede da vida.” Isto porque um degrau da conquista já foi alcançado, resta agora sabermos alcançar a conquista do que estamos prometendo: crescer, correr além da parede da vida e encontrar os velhos, mas tão adorados, sorrisos amigos. 

Sejamos orgulhosos na derrota, e bondosos na vitória.” Muito obrigado..."

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