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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quinquagésima Sétima Carta: Não mais trancado.

"Fora do registro das fotografias, e longe, no fundo de suas memórias, trancado sob o rótulo Tristeza. Perto disto estariam as mortes que ela presenciou, os terríveis momentos que atormentaram sua cabeça e as palavras que mais a fizeram chorar, junto com a raiz de suas chagas mais profundas, seus medos mais terríveis e suas lágrimas febris há muito secas. Estou tão intocado quanto suas máculas. Permaneci trancado tempo suficiente para ver que só sairia dali quando necessário, e foi um momento ínfimo o qual estive livre, não tardando de ser trancado novamente naquele poço. Não tentei escalar pelas paredes de seu âmago, nem romper os limites de seus sorrisos para retornar à vida, pois outra lágrima dela e eu estaria perdido em minha melancolia. Apenas pude esperar para deixar de existir ali dentro, e então começar meu próprio inferno dentro de mim. O terror que a causei agora me atormenta e a sede com a qual lhe castiguei agora me afoga, e é agora mais certo  que nunca, que estarei livre para destruir minha própria história, pois não importa quantas vezes eu me destrua, nunca estarei lá de volta para ser trancado. Que seja este o meu castigo. Ou que seja esta a minha glória, pois poderei vê-la novamente, corrigir a ponta de minhas garras e presas, anular o efeito de meu chicote e levá-la flores. Talvez seja este o triunfo: sair de dentro deste espelho e enxergar a verdade que sempre vi ao contrário; que ela permaneça trancada aqui, junto com minhas chagas e seu sangue."

Cartas Diretas,
obrigado.

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