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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Sexagésima Oitava Carta: Intersectação

"Eu sei que errei, por isso me redimi. Não que fosse vergonha, mas grande parte de mim - se não o todo - sentia medo naquele momento, e era mais angustiante pensar que algo aconteceria de ruim logo em seguida do que tentar reparar o erro. Milhares de coisas passaram pela minha cabeça como uma chuva de castigos, um dilúvio de ideias e frases contraditórias. Eu queria afundar a cabeça no chão ou simplesmente quebrá-la contra a parede, isso tudo por não saber se eu estava certo ou errado. E o que justifica isso? O que julga essa diferença? Talvez não seja o sujeito estar errado ou certo, talvez seja julgar a atitude, porque eu sempre concordei que os fins sempre justificam os erros, mas desde o momento que possa-se julgar separadamente se o indivíduo estaria certo ou errado neste meio, isto até que eu possa mudar ideia, embora ache difícil. Eu simplesmente, naquele momento, era um mar de confusões, e o máximo que conseguia fazer como bem vira era soltar um escárnio ou outro de agonia, porque falar naquele momento me exigiria muito. Até que soltei alguns dizeres interrompidos por grunhidos, ou simplesmente a garganta falhando, mas do que adiantaria dar outra palavra? Pioraria ou reverteria a minha confusão interior? Eu disse que era egoísta, que eu não procurei saber se era certo ou errado, e por isto apenas fiz por querer, por intenção de fazer, para saciar minha  própria vontade e sanar rapidamente a minha agonia. Pode não significar nada ou pouco ainda para você, mas é como eu sempre disse: depende do indivíduo. Ou quem sabe até da situação e do ambiente? A verdade é que não sossegarei até saber o que passou  por sua cabeça, o que pensou de mim e daquilo que fiz. Do nada apenas pude dizer o que mais eu poderia dizer de egoísta em mim: 'Você tem uma coisa e eu tenho outra, e o que eu quero não é a mesma coisa que você quer.' Eu simplesmente não poderia olhar novamente nos seus olhos se não tivesse dito isto por impulso... Ou  talvez nem foi. Talvez tenha sido tão intencional... Mas a verdade é que eu sempre pensei assim: você tem o seu pensamento e o seu sentimento, e isto te faz querer trilhar um caminho diferente do que penso, sinto e pretendo trilhar. Sua vida e a minha vida não são assim tão unidas quanto parece. Mas isso é mentira, porque... Você acha que o certo seria termos vidas, sentimentos, pensamentos e caminhos EXATAMENTE iguais? Claro que você está livre para responder por si só, mas eu lhe digo: não. Dois caminhos iguais, idênticos, jamais tendem a se cruzar, isto porque são iguais, ora pois, e como dois corpos não ocupam o mesmo espaço no mesmo instante de tempo, o mesmo vale para nossos caminhos, e por isto, levando-nos nos passos da igualdade, estaríamos caminhando paralelamente um ao outro. O certo é isto: caminhar caminhos diferentes, mas que no fim sejam complementares. Veja isto da forma que vejo: por mais distintos que dois corpos caminhem por uma trilha, a tendência é que em um ou mais momentos estes caminhos se cruzem, mesmo que tomem direções opostas, pois não há nada tão infinito quantos os pontos que duas histórias podem se cruzar. Então, me desculpe se lhe assustei com o que fiz e com o que disse, e aqui está, depois da tempestade, o que se passou pela minha cabeça e o que agora consegui resgatar para lhe mostrar, e  acho que com base nisso posso afirmar: certo e errado depende da relação dos encontros de dois caminhos, e quanto mais constante esses encontros se tornarem, mais perto de uma descrição estaremos."

Cartas Diretas,
obrigado.

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